Protocolo Bob Wilson
Nome: Laila Padovan
Disciplina: Encenações em
Jogo
Durante
as aulas destinadas a Bob Wilson, fui gradualmente sendo envolvida por um
universo bem particular e peculiar a que Bob Wilson nos convida a vivenciar; e
me surpreendi positivamente com a riqueza de seu trabalho e com sua audácia em
propôr uma forma de realizar o teatro que incluia várias outras manifestações
artísticas, como a dança, a ópera, a música, as artes plásticas, a arquitetura,
poesia, etc. Todas essas modalidades artísticas pareciam ser tratadas de forma
independente e pura, ao mesmo tempo em que eram deslocadas de seu contexto ou
funcionalidade tradicionais para serem inseridas em uma obra em que elas
apareciam justapostas, embaralhadas, coladas. Uma obra de arte total.
Um dos pontos que mais me interessou
na sua obra foi a possibilidade de conduzir, tanto os próprios
atores-bailarinos-cantores quanto os espectadores, a uma percepção alterada do
mundo. Como que num sonho, Bob Wilson nos transporta para uma dimensão com
outro tempo (através, por exemplo, de seus espetáculos bastante longos e dos
movimentos em câmera lenta), com outro espaço (através, por exemplo, de
justaposições, colagens, formas de iluminação, trazendo elementos da
arquitetura e das artes plásticas) e com figuras cênicas estranhas (através,
por exemplo, de figurinos meio animal, meio humano, de uma maquiagem branca e
pálida ou de movimentos estilizados).
O espectador parece assim estar
assistindo a uma paisagem em movimento, num mundo onírico, entre o sono e a
vigília, entrando em um estado alterado na qual pode começar a perceber
imagens, sons, sensações, pensamentos, muito diferentes daqueles que
experimenta em sua vida cotidiana. A inexistência de uma história a ser contada
nos remete a um modo da existência humana distante de nossa compreensão
racional e linear e que aponta para múltiplos sentidos e significados às vezes
até incompreensíveis e extraordinários.
“O que acontece na realidade é
um equilíbrio de ritmos. Sendo a imagem exterior lenta, o olho apreende com
maior rapidez o que é visto. As imagens exteriores e interiores começam a
ajustar-se umas às outras e a imaginação de quem vê caminha com velocidade cada
vez maior. Habitualmente o mundo exterior desenvolve-se com rapidez excessiva para
que o ser humano tenha tempo de pensar no que está se desenvolvendo em sua
mente, em relação àquilo que está acontecendo. No teatro de Wilson, a platéia
goza de um tempo a mais. Essa combinação de piscar e dormir é fundamental para
a experiência do espectador.” (GALIZIA, 2005, p.154)
As experiências práticas realizadas
na disciplina foram bastante interessantes para mim pois pude experimentar
formas de criação bastante diferentes das que eu costumo empregar em meu
trabalho artístico. A execução dos Roteiros Cênicos foi uma experiência
reveladora. Através de imagens que vinham espontaneamente em minha mente, pude
aos poucos organizá-las, experimentando uma sensação de certa liberdade em
misturá-las, utilizando alguns dos procedimentos do Bob Wilson como a
justaposição, a colagem, o deslocamento, etc. E o resultado final das cenas
realizadas em grupo foi lindo!!!! Muitas imagens realmente poéticas e ricas.
Bibliografia:
GALIZIA, Luiz
Roberto. Os processos criativos de Robert Wilson. São Paulo, Editora Perspectiva,
2005.
LEHMANN, Hans-Thies. O
teatro pós-dramático. São Paulo, Cosac&Naify, 2007.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia
da Percepção. São Paulo. Martins Fontes, 2011.
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