TRANSFORMAR
Protocolo
sobre Pina Bausch, feito
por Marcelo Braga
Depois dos primeiros
passeios por entre as obras de Pina Bausch, TRANSFORMAR foi a primeira palavra
que me veio a cabeça.... suas criações são de um forte impacto visual e
auditivo e se assemelham ao uma viagem imagética e sensorial que fica impressa no
corpo de quem trava contato com elas.
O universo da tanztheater, ou dança teatro, que
encontrei ao lançar um olhar mais apurado sobre os espetáculos dos bailarinos
de Wuppertal estava muito distante daquele universo idealizado da dança e muito
mais próximo de mim – encontrei ali retratadas as “relações humanas básicas de
pessoas ditas normais”.
O simples
transformado em inusitado!!!
AS
PALAVRAS SÓ PODEM EVOCAR AS COISAS... DEPOIS VEM A DANÇA
Na nossa primeira
tarefa, que era resgatar imagens/movimentos da obra de Pina Bausch para
compartilhá-los em sala de ensaio, encontrei certa dificuldade em escolher o
que levar pelo fato de que eu ficava sempre buscando um significado para aquele
movimento escolhido... a medida que esse exercício de
observação/apreensão/compreensão foi acontecendo pude perceber que as palavras eram
insuficientes para nominar os movimentos e que, na verdade, a lógica era ao
contrário: as palavras servem para inicialmente nominar as coisas mas que o movimento
humano é capaz de ampliar essas palavras conferindo-lhes significados mais
amplos.
CRIAR
UM VOCABULÁRIO CORPORAL
Na primeira
experiência como ator-bailarino, seguida do contato/observação/estudo de alguns
espetáculos de Pina Bausch, minha preocupação foi: Como me expressar pelo
corpo, sem a palavra? Será que meu colega/coreógrafo vai entender aquilo que
estou querendo dizer? Ao final da
primeira experiência percebi que foi a prática conjunta que foi capaz de criar
um vocabulário corporal comum e compreensível. No meu caso, um gesto de arrumar
meu anel para continuar a criar o meu repertório corporal – aquele gesto que eu
“absolutamente” não dei foco – foi o gesto escolhido e que acabou por
determinar o início da criação de uma outra gama de movimentos delicados,
pequenos e não menos expressivos.
RELATAR
SITUAÇÕES QUE TE DEIXAM SEM PALAVRAS
Na minha primeira
experiência como coreógrafo a sensações geradas pelo processo criativo foram
opostas aquelas do processo como ator bailarino. Minha função era
observar/absorver/organizar um conjunto de movimento e expressões de um
coletivo de atores bailarinos. Pensei que minha experiência na direção teatral
seria suficiente para realizar tal tarefa.... me enganei... no início busquei
registrar cada momento relevante de cada um dos meus atores bailarinos. Depois
de algum tempo percebi que meu registro precisava ser mais amplo pois os
movimentos/partituras que estavam sendo apresentadas a mim eram fruto das
experiências pessoais daqueles atores bailarinos.
Percebi então que
está ali, diante de mim, UMA NOVA MANEIRA DE EXPRESSÃO, uma representação da realidade de cada um a
partir da sua percepção da pergunta que eu fiz para provocá-los cenicamente -PERGUNTAS
PODEM LEVAR A RESPOSTAS CÊNICAS. Uma maneira que “dançateatraliza” a realidade
sem se afastar dela e sem também pretender trazê-la fielmente para o palco.
RETRATAR
A PALAVRA COM O CORPO
Como
dizer o que penso através do corpo, deixando para a palavra só o essencial? Essa
foi a minha pergunta norteadora durante todo o experimento Pina Bausch!!! Pude
perceber, enquanto coreografo, que quanto o uso da palavra foi permitido esse
limite da “palavra essencial” foi pouco explorado e muito pouco compreendido.
Como saber se o gesto está ou não dando conta? Como perceber onde cabe e onde
não cabe a palavra?
CONSTRUÇÃO
CORPORAL DO SENTIMENTO/ TORNAR “EXTERIOR” O QUE É “INTERIOR”.
O experimento Pina
Bausch foi importante para que eu pudesse ampliar minha percepção da palavra
EXPRESSÃO. A busca de trazer a cena um sentimento genuíno e ao mesmo tempo
teatral é uma das minhas buscas mais significativas como artista/pedagogo de
teatro. Evidentemente que o universo das artes cênicas nos apresenta uma
diversidade de possibilidades de expressão mas o contato mais íntimo e
constante com o universo da tanztheater
foi capaz de potencializar a minha compreensão.
"DANÇA
É VISTA COMO UM EXTRAVASAMENTO DE SENTIMENTOS INTUITIVOS OU INCONSCIENTES,
INACESSÍVEIS A EXPRESSÃO VERBAL."[1]
[1]
Reading Dancing – Bodies Subjectas in Contemporary American Dance (Berkeley:
University of California Press, 1986), p. xiv.
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