segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Pina Bausch

Protocolo

  Por Célia Govêia

             Palavras de Pina : “ Não estou interessada em como as pessoas se movem, mas o que as move”. Essas palavras de Pina, citadas pelo cineasta alemão Win Wenders no Caderno 2 de “O Estado de São Paulo” em 14/02/2011, demonstram que, além do sentido da atividade neuromuscular, os movimentos de dança têm a função de projetar o imaginário e o simbólico.
            Em “ O Lamento da Imperatriz : A Linguagem em Trânsito e o Espaço Urbano em Pina Bausch”,  Solange Caldeira ressalta a narrativa não linear presente nas peças de dança de Pina Bausch, nas quais o discurso fragmentado é povoado por imagens poéticas. Pina olha para o entorno, procedimento que se acentuou a partir da década de oitenta, quando o ponto de partida de suas criações passou a ser as cidades visitadas pela companhia, mantendo sempre o foco em como as imagens recolhidas ficaram impressas nos corpos dos bailarinos.
         Por sua vez, Ciane Fernandes destaca o método da repetição como veículo que leva ao desprendimento da situação real. Considerada mãe do aprendizado e recurso ao treinamento em dança, a repetição conduz ao efeito da distorção.
        O professor Bulhões solicitou a reflexão sobre o estranhamento poético presente nos trabalhos de Pina Bausch, que perturbam e deixam os espectadores inquietos, intrigados. Reação face ao singular, ao extraordinário, ao misterioso, ou processo de obscurecimento da forma, Caldeira salientou o fato de Pina remeter o espectador a mundos remotos e estranhos.
       As aulas do curso Encenações em Jogo ocorreram no teatro e os aquecimentos corporais no palco. Movimentos extraídos de vídeos das coreografias de Bausch  foram absorvidos por cada participante, depois mostrados e repetidos por todos. No primeiro encontro, o professor solicitou proceder individualmente a uma colagem dos movimentos absorvidos, editada por um colega que se propôs dirigir o trabalho. No segundo encontro o elemento estranhamento foi acrescido. As propostas aos exercícios cênicos consistiram em focar nas relações, ou então uma pergunta – método inerente ao processo criativo de Pina Bausch, foi formulada, especificamente a rememoração da vivência mais marcante no período da infância. As tônicas presentes consistiram na concentração, entrega e intensidade por parte de todos os alunos. Esses foram divididos em grupos, sempre com a constituição de um diretor, que ora selecionava o material contido nas improvisações individuais, ora orientava as composições no espaço.
    Nos encontros-vivências proporcionados pelo professor Marcos Bulhões, houve uma constante menção à acupuntura poética. Curiosamente, a palavra acu tem uma provável origem tupi, correspondendo a calor ou quentura. Derivada do latim, corresponde a agulha. Utilizada há milênios por chineses e japoneses, consiste na introdução, por meio de uma picada ( punctura) , de agulhas muito finas em pontos cutâneos precisos, sobre “linhas de força” vitais, às vezes afastadas da região doente.

BIBLIOGRAFIA:

CALDEIRA, Solange Pimentel. O Lamento da Imperatriz  : A Linguagem em Trânsito e o Espaço Urbano em Pina Bausch. São Paulo : Annablume, 2009.
FERNANDES, Ciane. Pina Bausch e o Wuppertal Dança-Teatro : Repetição e Transformação. Ed. Hucitec
Dicionários:
AUGÉ, GILLON, HOLLIER-LAROUSSE, MOREAU et Cie..Petit Larousse. 2 ed.. Paris : Librairie Larousse, 1959.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2 ed.. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1986.



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