Protocolo
Palavras de Pina : “ Não estou
interessada em como as pessoas se movem, mas o que as move”. Essas palavras de
Pina, citadas pelo cineasta alemão Win Wenders no Caderno 2 de “O Estado de São
Paulo” em 14/02/2011, demonstram que, além do sentido da atividade
neuromuscular, os movimentos de dança têm a função de projetar o imaginário e o
simbólico.
Em “ O Lamento da Imperatriz : A
Linguagem em Trânsito e o Espaço Urbano em Pina Bausch ”, Solange Caldeira ressalta a narrativa não
linear presente nas peças de dança de Pina Bausch, nas quais o discurso
fragmentado é povoado por imagens poéticas. Pina olha para o entorno,
procedimento que se acentuou a partir da década de oitenta, quando o ponto de
partida de suas criações passou a ser as cidades visitadas pela companhia,
mantendo sempre o foco em como as imagens recolhidas ficaram impressas nos
corpos dos bailarinos.
Por sua vez, Ciane Fernandes destaca o
método da repetição como veículo que leva ao desprendimento da situação real.
Considerada mãe do aprendizado e recurso ao treinamento em dança, a repetição
conduz ao efeito da distorção.
O professor Bulhões solicitou a
reflexão sobre o estranhamento poético presente
nos trabalhos de Pina Bausch, que perturbam e deixam os espectadores inquietos,
intrigados. Reação face ao singular, ao extraordinário, ao misterioso, ou
processo de obscurecimento da forma, Caldeira salientou o fato de Pina remeter
o espectador a mundos remotos e estranhos.
As aulas do curso Encenações em Jogo
ocorreram no teatro e os aquecimentos corporais no palco. Movimentos extraídos
de vídeos das coreografias de Bausch
foram absorvidos por cada participante, depois mostrados e repetidos por
todos. No primeiro encontro, o professor solicitou proceder individualmente a
uma colagem dos movimentos absorvidos, editada por um colega que se propôs
dirigir o trabalho. No segundo encontro o elemento estranhamento foi acrescido. As propostas aos exercícios cênicos
consistiram em focar nas relações, ou então uma pergunta – método inerente ao
processo criativo de Pina Bausch, foi formulada, especificamente a rememoração
da vivência mais marcante no período da infância. As tônicas presentes
consistiram na concentração, entrega e intensidade por parte de todos os
alunos. Esses foram divididos em grupos, sempre com a constituição de um
diretor, que ora selecionava o material contido nas improvisações individuais,
ora orientava as composições no espaço.
Nos
encontros-vivências proporcionados pelo professor Marcos Bulhões, houve uma
constante menção à acupuntura poética.
Curiosamente, a palavra acu tem uma
provável origem tupi, correspondendo a calor ou quentura. Derivada do latim,
corresponde a agulha. Utilizada há milênios por chineses e japoneses, consiste
na introdução, por meio de uma picada ( punctura) , de agulhas muito finas em
pontos cutâneos precisos, sobre “linhas de força” vitais, às vezes afastadas da
região doente.
BIBLIOGRAFIA:
CALDEIRA,
Solange Pimentel. O Lamento da Imperatriz
: A Linguagem em Trânsito
e o Espaço Urbano em Pina Bausch. São Paulo :
Annablume, 2009.
FERNANDES,
Ciane. Pina Bausch e o Wuppertal
Dança-Teatro : Repetição e Transformação. Ed. Hucitec
Dicionários:
AUGÉ, GILLON, HOLLIER-LAROUSSE,
MOREAU et Cie..Petit Larousse. 2
ed.. Paris : Librairie Larousse, 1959.
FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo
Dicionário da Língua Portuguesa. 2 ed.. Rio de Janeiro : Nova Fronteira,
1986.
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